ARTIGOS

Dialogo Liderança Presencing “Walk the talk”: palavras que o vento não leva!

Sorry, this entry is only available in Brazilian Portuguese. For the sake of viewer convenience, the content is shown below in the alternative language. You may click the link to switch the active language.

Escutei, pela primeira vez, a expressão “walk the talk” numa roda de conversas formada por pessoas interessadas nas tradições nativas dos índios norte-americanos. Isso foi há muito tempo e lembro-me do impacto que me causou. Aprendi que “colocar as palavras para andar” significava realizar o discurso ou, simplificando muito, falar a verdade. Honrar o que se fala por meio de atitudes é uma versão da expressão em inglês e o motivo do meu encantamento à época. Descobria, na ocasião, uma cultura que vivia o sagrado no cotidiano, considerando divino tudo que a cercava: as pessoas em sua diversidade, a natureza, o trabalho, as relações e, entre outras tantas coisas, a palavra. Para aquele povo, o que saía da boca do homem era a expressão da divindade existente nele. Profano seria, portanto, não viver de acordo com o que se dizia.

Retomo um pouco da cultura indígena porque tenho ouvido, com alguma frequência, no mundo corporativo, a frase “walk the talk”. Causa-me estranheza por que verifico que, entre muitos daqueles que a repetem, seu significado não é honrado e, muito menos, a sua origem. A expressão está ficando banalizada. Há líderes que se lembram do “talk” mas não do “walk”, esquecendo-se de que “um exemplo vale mais do que mil palavras”.

Tudo muito comum num mundo em que a palavra perdeu seu valor. As campanhas políticas tornaram-se símbolos dessa realidade que promove a desconfiança e a insegurança. Há exceções, mas, de uma forma geral, a fala transformou-se em falácia. Mais do que reações indignadas, a falta de ética tem provocado a desesperança daqueles que a percebem, que seguem suas vidas acreditando cada vez menos em seu próprio potencial de mudança. Essa dinâmica reproduz-se em nossas vidas pessoais, onde nem sempre preocupamo-nos em alinhar “falas” às nossas crenças e valores e, claro, nas organizações onde atuamos.

Analisando crises e a consequente perda de reputação nas corporações, pode-se verificar que, em grande parte das vezes, bastaria ter dito a verdade para evitar grandes danos. Simples? Acho que não. Por conta dos problemas gerados pelas incoerências das empresas surgiram os planejamentos, os departamentos e os responsáveis por sua reputação. O assunto é estratégico e depende de fatores como qualidade de produtos e serviços, performance financeira, liderança e responsabilidade social entre outros. Seu maior lastro, no entanto, é a confiança dos stakeholders. E isso só se consegue com honestidade.

Sendo assim, “walk the talk” é mesmo um princípio fundamental, desde que seu significado seja honrado, como dizem os nativos. Quando o colaborador percebe unidade entre o que ouve e o que experimenta numa empresa é o primeiro a brigar por sua reputação. Afinal, quem não quer vestir a camisa e defender com paixão a companhia onde passa a maior parte de seu tempo?

Como ninguém desiste de ser brasileiro diante de políticos mentirosos, empregados nem sempre pedem demissão por saber que o discurso da empresa não é coerente com suas ações; mas a continuidade, em ambos os casos, promove a descrença. É o pior efeito do esvaziamento das palavras. Quem desacredita acaba generalizando e desconfiando de pessoas, empresas e políticos que merecem crédito. Nesse cenário, o resgate de expressões como “walk the talk” pode ser um bom sinal. Cabe aos “donos” dos discursos a responsabilidade de cumprir o que prometem (ou de prometer apenas o que podem cumprir). Podemos aprender com nossos ancestrais a honrar as palavras, restabelecendo a confiança em todas as nossas relações.

Comentários

Comentários