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Presencing A Teoria U no processo de Coaching

A Teoria U traz uma proposta de profunda transformação em diferentes âmbitos da vida, com um movimento que segue a letra “U” e prescinde do estado de Presença que figura entre as principais competências dos coaches. Por si só, esse fato bastaria para torná-la uma ferramenta interessante de suporte ao nosso trabalho. Só que há muito mais. Como seria se essa competência fosse também desenvolvida nos clientes, ampliando sua percepção acerca da questão que o traz às sessões? O que aconteceria se ele pudesse não só fazer escolhas a partir de um novo modelo de atuação, mas também aplicar esse modelo a outras questões de sua vida?

Aproximei-me da Teoria U pelo caminho da experiência e posso dizer que não há melhor caminho que esse. Estava em um momento de grande transformação pessoal e, conforme ia lendo “Teoria U – Como Liderar pela Percepção e Realização do Futuro Emergente”, a primeira publicação de Otto Scharmer sobre o assunto, a proposta do U ia apoiando o meu próprio movimento e permitindo que eu experimentasse o que estava aprendendo. Era tão intenso que muitas vezes fechei o livro para dar conta da emoção que surgia. Isso foi em 2009 e, desde então, fiz muitos cursos, alguns deles com Scharmer, que certa vez alertou-me diante da minha dificuldade em “ensinar” o assunto: “Presencing não é uma metodologia que possa ser imposta às pessoas. Na verdade, eu diria que é impossível explicar o que é Presencing a quem não experimentou isso em sua própria vida.”

Em seguida, completou: “No entanto, o que descobri é que há muito mais gente do que se pode imaginar que vivenciou, mesmo sem saber, este momento em suas vidas. Elas têm a experiência e depois esquecem-na, porque é muito diferente dos padrões conhecidos. Podemos, então, criar um ambiente onde as pessoas possam se recordar dessas experiências e do que já aprenderam com elas. Podemos criar um contexto para isso fazendo-as contar suas próprias histórias. E o ponto inicial para conectar pessoas em torno de tudo isso é sempre o mesmo e não tem nada de teórico. Tem a ver, sim, com a aplicação do processo de Presencing, que significa começar a escutar.”
Há algo familiar ao processo de coaching?

O termo Presencing foi cunhado a partir da junção de duas palavras em inglês: presence ou presença, designa a habilidade de agir no agora ou o momento presente; já sensing, ou sentimento, refere-se à qualidade de sentir as possibilidades que emergem a cada instante. É o Presencing que impulsiona à ação a partir da fonte interior individual ou saber interior, capaz de originar ações transformadoras e mais efetivas no cenário de tantas incertezas e desafios que se vive hoje. A sabedoria inata cuja existência já está comprovada e é experimentada desde a ancestralidade por todos, seja de forma esporádica e intuitiva, seja de forma voluntária e contínua.

“Quem é você?” e “Por que está aqui?” são perguntas-chave nesse mapa simbolizado pelo U, cujo movimento pressupõe que o indivíduo seja capaz de enxergar a realidade que ultrapasse a sua própria, com foco num contexto muito maior. Através de uma percepção mais ampla da realidade, ele pode visualizar as melhores possibilidades de futuro (“cristalizar”), e atuar imediatamente de forma experimental até que a ideia possa ganhar corpo. Somente quando percebe o campo onde ele próprio e a questão que o traz ao coaching estão inseridos, o individuo pode agir de forma realmente transformadora. Por isso, uma palavra que resume a Teoria U é observação. É ela quem conduz ao Presencing e dali às ações transformadoras.

A estrutura social atual, de forma geral, não acompanha o ritmo das mudanças que ocorrem atualmente, operando, muitas vezes, como sistemas fechados, isolados de seu contexto. O gerenciamento desses sistemas é, hoje, um grande desafio para todos nós. Testada e aprovada em todo o mundo, essa tecnologia social oferece ferramentas práticas para lidar com esse desafio, em níveis individuais e coletivos através de interações poderosas entre todos os sujeitos de um campo. A sistematização dessa proposta partiu de uma pesquisa mundial com líderes e seus modelos de atuação. “O que fazem” e “como fazem” foram as perguntas que, inicialmente, nortearam esse trabalho e conduziram-no à descoberta do que se pode chamar de uma terceira dimensão de atuação, mais profunda que inclui a fonte a partir da qual cada um atua. Não se trata mais, portanto, de questões a cerca do que cada um faz, mas sim a partir de onde (ou seja, o propósito ou fonte geradora) cada um faz o que faz.

Essa fonte constitui-se num ponto cego, uma vez que só pode ser acessado através de um novo olhar que perpassa a ampliação da consciência individual. A Teoria U tem, então, a pretensão de revelar esse ponto cego e torná-lo acessível não só aos indivíduos, mas também aos diferentes grupos sociais. Assim, pode-se atuar em maior sintonia com a acelerada dinâmica social, saindo do estado de “ausência” experimentado atualmente, origem da insatisfação dominante em todos os meios sociais. Na Teoria U, a aprendizagem e a inovação acontecem a partir da conexão com as possibilidades futuras.

Seguindo a forma do U, esse estágio, onde o novo emerge e impulsiona à ação, acontece através do aprofundamento da escuta e da atenção, em etapas que começam com a suspensão dos padrões do passado, para observar com novos “olhares” e sentir a partir do campo. Assim, chega-se à base do U, ao momento do Presencing, onde sempre é necessário deixar algo para trás para seguir adiante acolhendo o que está por vir (futuro emergente). Na sequência, simbolizada pelo lado direito do U, cristaliza-se a visão e a intenção para iniciar a ação de forma imediata e experimental (prototipar).

Em coaching, costumamos observar os pontos de descarrilamento, e a teoria U não deixa de apresentá-los a nós. O que poderia impedir esse movimento de transformação rumo ao estado desejado? Inicialmente, a voz do julgamento, que impede a abertura da mente imprescindível à aquisição de novos olhares. Num segundo momento, a voz do ceticismo ou da desconfiança, que obstrui a abertura emocional necessária para se sentir o campo (coração aberto). E, num nível mais profundo, a voz do medo, que bloqueia o Presencing e a conexão à fonte (vontade aberta). Resumidamente, esse é o mapa que a Teoria U oferece aos que buscam transformar a si mesmos e ao Mundo. Boa viagem!

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