ARTIGOS

Refletindo Facilitador de si mesmo

Tenho observado algo mágico acontecer cada vez que um indivíduo acessa a si mesmo e a sua sabedoria inata e se abre genuinamente ao que seus parceiros – sejam eles do âmbito do trabalho ou da vida pessoal – trazem como contribuição para as complexidades que se apresentam.

Não gosto da palavra consultoria em sua conotação tradicional e, mesmo que a utilize algumas vezes, entendo que não serei eficaz direcionando e respondendo questões. Minha grande ambição é ver a expansão do outro. Por isso, tenho dirigido intenção e energia ao apoio ou facilitação do caminho das descobertas de cada ser humano que participa dos programas em que atuo. Aposto minhas fichas no potencial individual e coletivo de acessar e unir, quando necessário, diferentes “saberes” em prol da resolução de questões.

Como facilitadora, este é um caminho de aprendizado contínuo. Não me retiro dessa jornada de aprendiz nem por um instante e, às vezes, chego a me ver criança, observando e perguntando de um lugar de absoluto “não saber”. E o julgamento? Como fica aquela voz que determina o que é bom ou ruim, classifica e explica todas as coisas, discrimina ou eleva aquilo que lhe é familiar e agradável? Ah, este é o exercício mais duro. Exige minha atenção constante e é a razão de todo o conhecimento e treinamento que sigo buscando. Debruço-me sobre livros, mas é na convivência com grupos diversos que me vejo transformar e evoluir.

E foi isso que me levou a fazer parte de um programa de estudos e experiências na antroposofia. Mais experiências do que estudo, porque a primeira forma de se aprender sobre esta ciência espiritual é vivencial. É uma jornada carregada de aprendizados, em que renovo o olhar sobre mim mesma para poder contribuir cada vez mais e melhor com as pessoas e grupos com que trabalho.

Este programa tem muita sinergia com a Teoria U, tema que me tomou nos últimos anos, onde evidencio o potencial transformador da abertura da mente, do coração e da vontade. Essas três forças são capazes de transformar o mundo interior e exterior, tamanha a sua força. Abrir a mente, o coração e a vontade me demanda atenção constante e, não raro, me observo na defensiva, julgando, desconfiando ou temerosa do que está emergindo no campo da vida ou do trabalho. O antídoto é sempre a tomada de consciência e a escolha por novas atitudes; por isso, sigo exercitando.

Manter-me alerta para essas armadilhas é a habilidade que mais exercito para minhas atuações profissionais. Não me sinto genuína em atuar com processos de transformação, sejam eles individuais ou coletivos, se estiver fechada para os meus próprios processos. O que acontece dentro de mim, reverbera sempre nos grupos com que atuo.

Por isso, penso que, no currículo dos facilitadores, deveria ter um quesito a mais: facilitador de si mesmo! Não presto um bom serviço se estiver desconectada de mim; fechada em meu pensar, sentir ou querer; e, principalmente, resistente às mudanças que cotidianamente surgem em minha vida. E é por isso que preciso de cursos, experiências, programas e vivências que me ajudem a olhar pra mim com outras lentes. Não consigo imaginar outra forma de facilitar o acesso de outros a si mesmos.

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